Como a moeda social pode reduzir a violência urbana

No Brasil, a violência urbana já mata mais gente por dia do que guerras, como o conflito entre Israel e Palestina ou a guerra civil na Síria. A violência urbana sempre foi uma das principais preocupações de governos e policymakers. No país, em especial, com um rápido crescimento nas últimas décadas, esse assunto vem se tornando cada vez mais imprescindível de ser tratado.

O uso da moeda social possui um enorme potencial para redução da violência

Aqui ocorrem cerca de 60 mil homicídios anuais. Entretanto, o número real de mortos é muito maior, já que os dados oficiais incluem apenas os mortos cujos corpos são encontrados pelas autoridades.

Se a pessoa vier a falecer dias após as lesões derivadas do fato criminoso, ou se os corpos não são encontrados, essas mortes acabam não entrando nas estatísticas de homicídio. Estimam-se, por exemplo, que o número de desaparecidos ao ano no Brasil seja de mais de 250 mil!

As dimensões sociais da violência urbana sãoextremamente complexas e dinâmicas. É realmente um dos problemas mais difíceis de se resolver nas cidades. Contudo, nos últimos anos, uma inovação realizada em alguns locais pode revolucionar o jeito como governos lidam com o tema: a introdução de uma moeda social.

A moeda social é considerada um instrumento de desenvolvimento local, destinada a beneficiar o mercado de trabalho dos grupos que participam da economia da localidade. Seu uso é restrito, e a sua circulação beneficia a redistribuição dos recursos na esfera da própria comunidade.

Basicamente, em uma comunidade fechada, cria-se uma moeda paralela à moeda oficial do país, na qual a alternativa é lastreada. Assim, moradores dessa comunidade podem usar a moeda nos estabelecimentos locais, sem necessitar possuir a moeda oficial no bolso.

E o uso da moeda social possui um enorme potencial para redução da violência. Não só por desenvolver a economia local (já que as moedas só podem ser utilizadas nas comunidades que as adotem), mas também por gerar um desincentivo aos criminosos, uma vez que eles não poderiam utilizar a moeda em outro local.

Algumas comunidades ao redor do mundo já apresentam significativas melhorias no desenvolvimento econômico, bem como na redução da criminalidade. As cidades de Volos (Grécia) e Espinal (México) ilustram bem esse fenômeno. O experimento de Wörgl (Áustria) também é uma clássica referência histórica que adiciona mais peso aos argumentos favoráveis.

No Brasil, a cidade de São João do Arraial (PI), é um bom exemplo. Tendo adotado a moeda “Cocal” em 2005, a cidade atualmente apresenta uma economia mais fortalecida que suas vizinhas, conseguindo aumentar a arrecadação do governo em R$ 500 mil anuais e estando há pelo menos 1 ano sem registro de roubos e homicídios.

O potencial é inegável, porém os estudos sobre o assunto ainda são escassos. Todavia, caso eventuais análises estatísticas confirmem, é uma alternativa viável e eficaz para se implementar em comunidades menos favorecidas. A solução do problema da violência no Brasil é urgente e não pode mais aguardar. Enquanto você lia esse texto, mais dois brasileiros morreram vítimas da criminalidade.

Gostou do assunto e quer saber mais? Recomendo o livro “Inseguranca Publica – Reflexões Sobre a Criminalidade e a Violência Urbana” (de Nilson Oliveira). O livro reúne opiniões de diversos especialistas no assunto.

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