Que a educação brasileira é péssima, isso ninguém tem dúvidas. Estamos na 60ª de 76 posições no ranking Pisa e na 85ª de 187 posições do Índice de Educação da ONU. A situação é gravíssima: aproximadamente 40% dos estudantes de nível superior no país são considerados analfabetos funcionais!
Será realmente uma boa ideia colocar crianças para escolherem os diretores das escolas?
Os movimentos de ocupação das escolas públicas, que começaram em meados de abril, hoje já atingem centenas de instituições em diversos estados brasileiros, causando um estrago inestimável para o futuro do país. Com lideranças muito mal organizadas, uma das suas indefinidas exigências é de que os alunos tenham o poder de votar nos diretores de suas escolas.
No Brasil, diretores de escolas públicas são considerados cargos de confiança e sua nomeação sempre foi motivo de polêmica. Suas indicações são feitas diretamente pelos órgãos de educação responsáveis pelas escolas (Ministério e Secretarias de Educação). Não há critérios claros, nem regras estabelecidas, o que muitas vezes resulta em diretores escolhidos simplesmente por decisões políticas.
Com isso, surge uma dúvida: como é feita essa seleção em outros países do mundo?
Nos Estados Unidos, existem as figuras do conselho de educação e do superintendente. O conselho de cada região é normalmente eleito pela população local e define os superintendentes, que são administradores responsáveis por gerenciar um determinado número de escolas nos seus distritos. Já a escolha dos diretores é feita mediante processos seletivos organizados pelos superintendentes. Diversos candidatos participam do processo, que passa pela análise dos currículos e uma série de entrevistas.
Já na Austrália ou Nova Zelândia não é muito diferente: as escolas públicas possuem um conselho próprio, que contratam, por processo seletivo, todos os profissionais da escola. Os critérios para a seleção são extremamente bem definidos e elaborados em assembleias com as comunidades locais. Qualquer um com a experiência necessária pode se candidatar aos cargos.
Na Europa, o processo de escolha de diretores varia muito de país para país. No Reino Unido, os processos são muito bem definidos. Já na Bélgica, por exemplo, a regras sobre como se dá a nomeação e quais são as tarefas da diretoria são menos claras. A Dinamarca e a Noruega possuem uma regulação bem frouxa sobre o assunto, enquanto que a Holanda sequer possui uma legislação específica. Nesses países, de forma geral, as escolas (e seus respectivos comitês educacionais) têm um grande poder discricionário para definirem suas diretrizes, nas quais os diretores agem mais como professores “chefes”.
Recentemente visitei algumas escolas ocupadas. O que vi, majoritariamente, foram jovens sem fazer nada, alguns tocando violão, outros conversando, ouvindo música e fazendo festinhas. Eles parecem não ter uma reivindicação clara, não sabem o que querem e, consequentemente, como chegar lá.
Isso é realmente uma atitude de quem quer melhorar a educação? Acredito fortemente que se o desejo deles é realmente ter mais educação para que possam se desenvolver, eles poderiam, em vez de fazer rodinhas de samba, estar lendo livros ou até fazendo esquemas de monitorias. A informação hoje é muito fácil de obter pela internet, mas eles parecem preferir usar o facebook do que a wikipedia, por exemplo.
Portanto, será que realmente é uma boa ideia colocar essas crianças de 14-15 anos para votar nos diretores das escolas? Eu sou contra, pois geraria um forte incentivo aos diretores de terem que agradar as vontades dos alunos, o que obviamente não é o objetivo de uma escola. Isso, sem imaginar algo pior: a compra direta ou indireta de votos.
Não que eu ache que jovens não deveriam ter mais voz na sociedade. Mas, para isso, eles devem se mostrar dignos da responsabilidade, o que eles não têm feito até agora. Infelizmente esses são os frutos da geração Paulo Freire.