Olhe ao seu redor. Todo e qualquer objeto que seu campo de visão alcança só chegou aí devido a uma coisa: caminhões. Seja direta ou indiretamente, tudo que você consegue ver está onde está porque algum dia algum caminhão transportou uma matéria-prima ou o objeto em si.
É por isso que a greve dos caminhões talvez seja o assunto mais preocupante dos últimos meses. Exagero meu pensar assim? Talvez. Mas dessa vez parece que a coisa vai ser séria e está escalonando de forma rápida. Acompanhe comigo o raciocínio:
A foto acima mostra como estão as estradas do Brasil inteiro. Pela primeira vez na história recente o país realmente deve parar por inteiro. Provavelmente já está parado. Isso não aconteceu com protestos políticos, sindicalistas ou de qualquer outra natureza. Mesmo durante o Impeachment ou em votações de reformas, como a trabalhista, os protestos que surgiram foram localizados e não duraram muito tempo.
Mas está acontecendo agora que o governo realmente mexeu no bolso de quem move o país. E, diferentemente dessas outras ocasiões, a atual greve conta com um grande apoio popular, o que é imprescindível para a pressão nos governantes. É simples de entender o que está acontecendo:
A população está cansada de pagar tão caro por tudo. Especialmente pelo combustível, já que afeta praticamente todos os aspectos e custos da vida de qualquer um. Foi uma grande ingenuidade acreditar que seria possível sustentar seguidas manipulações de preços sem que houvesse insatisfeitos.
Veja o caso da gasolina, por exemplo. Uma pesquisa dessa semana da Globalpetrolprices mostra que temos a 91ª gasolina mais cara do mundo. Para um país exportador de petróleo isso é inaceitável. Não bastasse nossa gasolina conter 27% de álcool, entre 40-50% do valor nos postos é em impostos diretos. Pagamos muito para receber muito pouco. Por sinal, quer saber quanto custa a gasolina nos postos da sua região? Esse site bem interessante faz um comparativo de preços.
Agora, o que realmente foi o divisor de águas, foi o aumento seguido dos combustíveis. Durante 10 semanas os preços aumentaram. Só nesse mês, o diesel aumentou mais de 16%. Uma grande ilusão dos governantes foi achar que continuariam com essa política sem que houvesse insatisfeitos. O povo pode demorar a cobrar, mas cobra.
ATUALIZAÇÃO. O Marlon Ferreira fez um excelente trabalho de mapear, em tempo real, as rodovias brasileiras. Confira:
Os caminhoneiros sinalizaram que dessa vez a coisa é séria e não vão desistir da negociação. Por outro lado, o governo diz que reduzir os quase 50% de impostos do combustível é impossível. O ajuste fiscal, que já deveria ter sido feito há décadas, ainda engatinha (para não dizer que está parado). Enquanto isso, pagamos por décadas de erros, incompetência e corrupção de políticos.
Com a greve, itens de necessidade básica, como água, papel higiênico, comida, gasolina e, por que não, cerveja, já começam a faltar nas prateleiras dos supermercados. As implicações dessa paralisação são inimagináveis: estoques encalhados em fábricas, trabalhadores que não conseguem andar de ônibus por falta de combustível, aumento do preço de bens de consumo… Daria para ficar horas listando todos os entraves e possíveis problemas. O que resta a saber é se os impactos serão apenas de curto prazo ou terão duração maior.
Portanto, o protesto dos caminhoneiros pode verdadeiramente ser um ponto de inflexão para o país. Finalmente unidos, eles têm a chance de mostrar o verdadeiro poder popular. E, caso o país pare por muito tempo, o governo não terá outra alternativa a não ser negociar. Não existe outra opção.
Mas, por outro lado, as consequências na economia podem durar um tempo considerável. Junte isso a uma crise cambial que está por vir e o resultado poderá ser desastroso. E, se isso acontecer, meu amigo ou minha amiga, pode ter certeza: aquele friozinho de manhã ao sair das cobertas vai ser o menor dos seus problemas!
E você, o que acha da greve? Justa ou está prejudicando gente desnecessariamente? Deixe sua opinião nos comentários abaixo!