Já se perguntou o que teria acontecido com pessoas como Bill Gates, Steve Jobs ou Marc Zuckerberg se tivessem nascido por aqui? E mais: já tentou entender por que empresas como Facebook, Uber, Google, Apple ou Microsoft surgem nos Estados Unidos, mas não no Brasil?
Não é acaso do destino, como muitos podem imaginar. Pelo contrário, existem fatores muito específicos que explicam as razões de dificilmente empresários no Brasil conseguirem desenvolver grandes negócios mundiais como esses.
Obviamente o assunto é muito extenso. Mas separei alguns dos que julgo serem os principais elementos que tornam o empreendedorismo no Brasil uma luta diária por sobrevivência.
No Brasil, demoramos uma média de 107 dias para abrir uma empresa. Isso é praticamente 4 vezes superior à média mundial (25 dias). E uma das causas de estarmos na 116ª posição do ranking mundial de facilidade de se fazer negócios.
Depois de consolidada, a nova empresa precisa entender quanto e quais tributos irá pagar. Dependendo do setor, são mais de dez. É tão difícil que, em diversos casos, nem especialistas em contabilidade convergem a uma resposta concreta.
Cada dia é uma batalha diferente. Muitos empresários optam por não expandirem a empresa ou não exportarem seus produtos por medo de aumentar a burocracia. Mas a burocracia não é tudo, ainda temos um problema mais grave: a corrupção.
Em um país como o nosso, onde o Estado tem um grande poder sobre a economia, empresários são totalmente submissos ao poder público. Além de terem que dividir boa parte do lucro com o seu “sócio oculto”, donos de empresa muitas vezes se veem com um grande dilema: corromper-se ou fechar a empresa e demitir todo mundo. Quanto mais fiscais com poderes discricionários, mas bocas sedentas para exigir propina.
Não só isso, mas também temos legislações extremamente instáveis no país. As regras do jogo podem mudar a qualquer hora, quebrando empresas sólidas imediatamente. Um único discurso ou projeto político pode ser suficiente para que um setor inteiro da economia caia na desgraça e centenas de pessoas sejam impactadas.
Um ponto bem polêmico, reconheço. Mas não por isso menos significativo. Para começar, não é permitido que uma empresa pague salários diferentes para pessoas com cargos iguais. Isso aniquila a competição interna e desmotiva os colaboradores a trabalharem cada vez melhor, já que não poderão receber mais do que seu colega preguiçoso ao lado.
Adicionalmente, as grandes startups mundiais frequentemente exigem cargas acima de 60 horas de trabalho por semana. Porém, no Brasil, essas horas extras saem caras e ainda são mal vistas por muitos, que já acham 40 horas semanais um exagero.
Ainda temos alguns dos maiores encargos trabalhistas do mundo, que praticamente dobram o quanto a empresa gasta de salário líquido para o colaborador. Portanto, para diversas startups, o custo de se empregar gente qualificada inviabiliza o negócio. E o pior: boa parte desse dinheiro não vai para quem de fato está trabalhando.
Demissões também são muito difíceis de serem feitas aqui no Brasil. Dizer que empresários são reféns de funcionários mal-intencionados não é exagero. Quando o custo de se demitir fica muito alto, muitos acabam se aproveitando disso para fazerem o famoso “corpo mole”. Isso sem falar nos “profissionais” especializados em serem demitidos para conseguir seguro desemprego ou aqueles que arrumam acidentes de trabalho propositalmente (sim, eles existem).
Sei que muitos irão reclamar desse ponto, falar que eu defendo escravidão e sou contra os direitos dos trabalhadores. Mas a verdade é que para que existam produtos e serviços como Facebook, Iphone, Uber, Windows, Youtube ou Google, milhares e milhares de pessoas trabalharam mais de 10 horas diárias durante semanas seguidas.
Pode até questionar se isso é saudável ou não. E eu concordaria: não é. Agora, apesar de você ter toda a liberdade de poder escolher quantas horas quer trabalhar, não se pode obrigar quem quer trabalhar mais a ter um limite de horas de trabalho. Mas aqui no Brasil não é assim que a banda toca.
Os funcionários dessas empresas de sucesso estão diariamente procurando formas de se tornarem mais produtivos. Querem sempre fazer o máximo possível enquanto estão nos seus postos de trabalho. Isso faz parte da mentalidade dessas pessoas, que desde o ensino básico são educadas a procurarem as formas mais eficientes de se realizar tarefas.
No Brasil, é comum ver gente que usa uma calculadora para fazer contas que estão numa planilha de Excel. Teclas de atalho, então, são itens que não existem. E a resistência a aprender formas mais produtivas de se fazer as coisas é muito grande.
Estamos cercados de ineficiência em todos os lugares, o que faz o país perder centenas de milhares de horas todos os dias em baixa produtividade.
Não obstante, ainda temos outro problema muito grave: a velocidade da internet. Nossa velocidade média é de 6 Mbps, o que nos coloca na 90ª posição mundial. Esse problema ainda se agrava em certas regiões do país, que não conseguem sequer chegar à metade dessa velocidade.
E o pior é que se você reclama, isso é coisa de “gente mimada”. Mas a realidade é que internet lenta é uma das piores coisas que podem ocorrer para um negócio. Dessa forma, nossas empresas não conseguem se tornar competitivas com o resto do mundo.
Empreendedores no Brasil são verdadeiros heróis. Primeiro precisam passar por uma Via Crúcis para tentarem legalizar seu negócio. O dia-a-dia já é uma guerra contra a ineficiência que nos bombardeia em todas as direções.
Depois, é necessário combater as garras de um Estado corrupto que fará de tudo para tentar se tornar “sócio” da sua empresa, arrecadando o máximo possível com ela.
Por outro lado, o sistema trabalhista brasileiro cria incentivos para que as pessoas demandem muitos direitos sem quererem trabalhar mais por isso. Pelo contrário, muitos tentarão trabalhar o mínimo possível, o suficiente para não serem demitidos.
Os poucos que sobrevivem ainda precisam ter muita paciência. Estamos na 80ª posição do ranking de produtividade mundial. Em média, um trabalhador americano produz em apenas 1 hora o mesmo que um brasileiro leva 6 horas para fazer.
E, como se isso tudo já não fosse grave o suficiente, o empresário que conquista o sucesso ainda é enxergado por boa parte da população como um demônio opressor, que só se preocupa em lucrar e explorar o trabalhador.
Portanto, é fácil imaginar que se Marc Zuckerberg fosse brasileiro, provavelmente ainda estaríamos usando o Orkut. Empresas de grande performance requerem pessoas dinâmicas e que entendem que não são apenas as leis que garantem seus direitos, mas, principalmente, o trabalho duro e o bom serviço.
Para finalizar, deixo uma frase escritor Stephen Covey para que você reflita o texto antes de comentar algo: “a maioria das pessoas não escuta com a intenção de entender, mas apenas com a intenção de responder”.
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