O empreendedorismo no Brasil veio para ficar. Já somos o terceiro país com maior número de empreendedores no mundo e, a cada dia, mais de 30 empresas são criadas. Entretanto, nos próximos anos esse fenômeno deverá ser seriamente afetado por um grave problema: o fomento brasileiro.
Essa é uma novela que contém uma apavorante mistura de empresas criadas com a única finalidade de conseguir dinheiro público, picuinhas políticas e empreendedores inexperientes ganhando boladas apenas com uma ideia e uma apresentação em PowerPoint.
E o pior: não só o empreendedorismo sofrerá consequências, mas a economia brasileira como um todo pode estar caindo em um espiral de incertezas.
Normalmente, ao criarem uma startup, um das primeiras fontes de investimento que muitos fundadores procuram é o fomento público. Seja das esferas federal, estadual ou municipal, dinheiro do governo é sempre bem-vindo. E é de se esperar que isso aconteça, já que o nosso país tem uma grande cultura de que o governo deve ser o responsável por incentivar a economia.
E não encontram muita dificuldade. Atualmente, há diversas bolsas públicas disponíveis para investimento em startups. A maioria das quais é a fundo perdido, ou seja, o governo dá dinheiro para a empresa e não pretende receber nada de volta.
Olhares desatentos acreditam ser um bom modelo econômico e que o empreendedorismo está de fato sendo incentivado. Dinheiro, mentoria e espaço para trabalhar… O que mais um empreendedor precisa, né? Entretanto, isso não poderia estar mais longe da verdade.
Na realidade, um dos preocupantes resultados desse fomento público é uma tautologia esquizofrênica. A criação de startups virou um negócio! Sim, há pessoas se tornando especialistas em abrir empresas para captar essa grana.
Elas, porém, não possuem compromisso algum com o empreendedorismo, já que, muitas vezes, não há contrapartidas claras para esse investimento público.
Isso não é exclusividade do Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Zirtual, uma startup que tinha acabado de receber 6 milhões de dólares em investimento, fechou as portas sem sequer avisar os funcionários.
Com certeza não é o que acontece na maioria das vezes, são casos isolados. Mas é algo que tem crescido e acaba gerando o segundo desastroso incentivo do fomento. Apesar de não ser por má fé, muitos empreendedores acabam inicialmente focando exclusivamente em receber o investimento. Só depois pensarão como irão conduzir o negócio, mesmo que tenham que trocar a ideia inicial.
“Vamos primeiro pegar a grana e depois pensamos direitinho o que fazer”
O propósito de muitas dessas novas empresas deixa de ser elaborar um produto ou serviço que atenda a um determinado mercado e passa a ser criar planos de negócio e apresentações muito bem articuladas para serem aceitos nesses programas de fomento. E não temos nem como culpá-los. O dinheiro está disponível e alguém vai ter que receber.
Ainda há uma terceira trama nessa novela. Mesmo nos casos onde as startups são genuinamente sérias e possuem equipes dedicadas a realizar suas ideias de negócio, ser aceito em um programa de fomento não significa necessariamente garantia de obtenção do dinheiro.
Moramos no Brasil, um país onde tradicionalmente as instituições não possuem muito compromisso em cumprir suas promessas. E, especialmente no período de crise, não é difícil imaginar que o governo nem sempre possua caixa suficiente para pagar o fomento.
O que pode ocorrer também (e que na realidade já ocorreu) é que, após entrar um novo governo, alguns desses programas podem ser fechados da noite pro dia, sem aviso.
Ou seja, empreendedor pode acabar perdendo o tempo dele na esperança de um dinheiro que não virá. Isso acaba desmotivando muitos jovens empreendedores que acreditam que a única forma de conseguirem abrir uma empresa é com algum tipo de investimento desses.
No Brasil há uma falsa ideia de que dar dinheiro é o suficiente para incentivar um certo setor. Você certamente já falou ou ouviu gente falando “o governo precisa investir em tal coisa”. Mas será que realmente é só de dinheiro que as empresas estão precisando?
De 2014 a 2015, o país viu o investimento público a novas startups crescer em aproximadamente 20%. Entretanto, paralelamente, enquanto o fomento aumentou, o Brasil caiu 5 posições no ranking de “Facilidade em fazer negócios”, realizado pelo Banco Mundial.
Hoje nos encontramos na 116ª posição, abaixo de países como Quênia, Honduras e Gana.
A situação é ainda pior no ranking de “tempo para abrir um negócio”, onde estamos acima apenas do Haiti, Guiné Equatorial e Venezuela. Aqui no Brasil demora-se, em média, 83 dias para abrir uma empresa, enquanto que a média dos países desenvolvidos é de 8 dias.
E esse é o grande problema para as empresas. Não basta distribuir dinheiro para promover o desenvolvimento econômico. A prova disso é que mesmo com o aumento dos investimentos, a mortalidade das empresas aumentou assustadores 300% entre 2014 e 2015!
Empresários, de maneira geral, só querem liberdade para poderem trabalhar. Enquanto forem bombardeados por impostos, burocracia e falta de competição, muitas vezes dinheiro em si não será a solução.
Pelo contrário, pode vir a se tornar uma ideia espúria, pois passa a falsa sensação de que o país está verdadeiramente adotando um bom modelo de investimento em startups. Políticos se vendem como fomentadores de negócio e as pessoas acabam acreditando ao ver que o investimento subiu. Só não dizem que está mais difícil para ser empresário.
Bill Gates tinha uma frase que pautava todo o seu modelo de gestão. “O investimento aplicado em uma operação eficiente irá ampliar a eficiência. Já o investimento aplicado em uma operação ineficiente irá ampliar a ineficiência”.
O que o governo tem feito é basicamente investir em startups cegamente. Muitos dos programas de fomento público não possuem diretrizes bem definidas nem metas claras de desempenho.
Eles apenas possuem um orçamento para investir e dão o dinheiro para as empresas que apresentarem melhores projetos. Isso independe delas sequer estarem operando ou já estejam vendendo. O que vale é a ideia, não a comprovação de que ela está dando certo.
E isso é ainda agravado pelo fato de o ser humano possuir uma tendência de não valorizar muito o dinheiro quando não trabalhou por ele. Ganhar dinheiro é mole e, se houver algum imprevisto, ninguém é responsável por devolvê-lo.
Então por que não arriscar? Por que se preocupar em ser eficiente e fazer uma boa gestão dos custos? O empreendedor entra na ilusão de achar que após ser escolhido para participar do programa de fomento ele já ganhou a corrida. Sua ideia é genial e agora ninguém mais pode pará-lo!
Reconheço que é uma situação bem delicada e um tema complexo. Mas transformar o governo em um banco de investimento de startups não é uma boa ideia.
Inicialmente, a solução deveria focar em eliminar os entraves ao empreendedorismo. Isso não é fácil, mas é o certo. Depois disso, realizar investimentos é uma boa opção, mas o modelo certamente deveria ser revisto.
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