O voo 3411 da United Airlines, que sairia de Chicago com destino a Louisville, se tornou um dos piores desastres de relações públicas que uma companhia aérea já sofreu.
Vídeos que mostram a polícia arrastando um passageiro para fora do avião, e o consequente atraso de 2 horas gerado, trouxeram um dano irreparável para a empresa.
É claro que não tardou para a mídia culpar o fato de companhias aéreas venderem mais assentos do que existem disponíveis nos voos. Para o público, a culpa é da ganância desses empresários.
A realidade é que a resposta é mais complexa do que pode parecer. Mas por que essa prática, chamada overbooking, é tão frequente?
Porque simplesmente é um grande negócio para a empresa!
Bom, em qualquer voo um certo número de passageiros não irá aparecer. Essa é a chamada taxa de “no show”. E viajar com assentos vazios é uma grande oportunidade desperdiçada que a companhia teria para fazer um pouco mais de dinheiro.
Ainda que alguma pessoa já tenha pago por esse lugar inutilizado, isso não muda o fato de o assento ir vazio. Isso significa que outra pessoa também poderia ter pago por ele. E, óbvio, qualquer empresa altamente eficiente não deixaria de perder essa chance.
As companhias aéreas possuem cálculos complexos para estimar essa taxa, que costuma variar bastante para cada rota e datas. No caso do voo 3411, por exemplo, houve a venda excessiva de assentos, pois na data e local de origem do voo há um alto índice de passageiros que não aparecem.
Isso é comum em hubs, ou seja, aeroportos onde são feitas muitas conexões. Como muitos voos chegam atrasados, muita gente acaba perdendo suas conexões todos os dias. Além disso, como há uma grande variedade de voos disponíveis, além de outros meios de transporte, não é raro passageiros mudarem seus planos em cima da hora.
Por outro lado, em aeroportos onde há pouca disponibilidade de voos ou transportes alternativos, como ônibus, a chance da pessoa não comparecer é muito baixa. Perder um voo no aeroporto de Corumbá (MS), onde só há 4 voos por semana, é um inconveniente muito maior do que perder um voo em Congonhas (SP), onde sai um avião a cada 5 minutos.
O mesmo ocorre nos domingos a noite, por exemplo. Segunda-feira todo mundo tem que trabalhar, então ninguém quer perder o voo. Portanto, isso tudo as empresas levam em consideração.
As cias aérea utilizam seus cálculos da taxa de no show para poder estimar, com uma boa margem de segurança, quantos assentos elas podem vender além da quantidade existente nos aviões.
Com melhores dados e programas de computador inteligentes, esses modelos de previsão ficam mais robustos a cada dia. Em 1990, nos EUA, 16 a cada 10 mil passageiros não conseguiam embarcar por falta de lugar disponível. Esse número reduziu para 9 a cada 10 mil em 2016.
Os passageiros que não conseguem embarcar recebem uma compensação por isso. Em geral isso é feito com um leilão antes dos voos. E o valor que as empresas gastam nessas compensações é muito inferior ao que elas ganham com o overbooking.
Ou seja, mesmo que eventualmente gere custos, o overbooking traz um ganho líquido muito grande para algumas empresas (nem todas utilizam essa prática).
É claro, desde que isso não vire um desastre internacional!
O que ocorreu com o voo 3411 da United, ainda que tenha sido uma tragédia, foi algo extremamente atípico. Uma sucessão de erros grotescos que culminaram em uma das publicidades mais negativas já vistas por uma empresa aérea.
No dia 9 de abril, um médico americano de origem asiática foi arrastado para fora do voo, após se recusar para sair dar lugar a um funcionário da empresa. A história circulou o mundo, com um vídeo mostrando a brutalidade da polícia.
Muitos culparam a prática do overbooking, e protestaram para ser ela proibida. Mas o assunto é um pouco mais complexo que isso.
Nas raras ocasiões em que as cias aéreas precisam selecionar um passageiro para involuntariamente não embarcar, elas utilizam alguns critérios hierárquicos.
A grosso modo, os que ficam de fora, em geral, são os que possuem um “menor valor” para a empresa. Normalmente, os que fizeram checkin por último ou os que não possuem um cartão fidelidade (mesmo que pouco usado), costumam ser os escolhidos.
Fazer o checkin com antecedência pela internet ou possuir um cartão fidelidade reduzem consideravelmente suas chances de não embarcar.
O que você precisa entender é que a margem de lucro das empresas aéreas não é tão grande quanto você possa imaginar. Consequentemente, elas estão constantemente procurando formas de ganhar um pouco mais dinheiro por assento, para que possam reduzir o preço das passagens.
Cobrar passagens mais caras não é interessante, como muitos acreditam. Não estou dizendo que são organizações altruísticas, mas elas entendem que o fator determinante para um passageiro comprar sua passagem é o preço.
Preços baixos vendem mais, simples assim. Dessa forma, as companhias aéreas vão aproveitar qualquer oportunidade disponível para reduzir seus preços, aumentar as receitas e ganhar uma maior vantagem competitiva em relação a seus competidores.
A esmagadora maioria das pessoas prefere voos mais baratos do que uma experiência melhor de viagem. Portanto, todas essas opções de tarifas de passagem disponíveis, venda de refeições a bordo e até o overbooking são uma resposta ao que o consumidor realmente quer: pagar o mínimo possível para viajar de avião.
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1 Comentário
Nós, consumidores, somos comumente lesados pelas companhias. Devemos nos unir e propagar informação para sermos mais fortes. Por isso, compartilho um outro artigo que também me ajdou muito: https://meudireito.online/o-que-e-overbooking/