Você já teve a sensação de ter uma rotina tão repetitiva que já está em modo automático? Quantas são as atividades do seu dia-a-dia que você realmente tira um tempo para pensar na melhor forma de fazê-las?
Aposto que isso certamente acontece com você. Assim como também ocorre comigo. A explicação é que nossos cérebros são condicionados a serem eficientes e automatizarem rotinas. Dessa forma economizamos a energia que seria gasta para pensar todo dia na mesma coisa.
Mas isso tem um lado negativo. Como não conseguimos pensar profundamente em todas as decisões que tomamos na vida, acabamos delegando muitas delas. Dessa forma, frequentemente fazemos algo por influência de outros e não pela nossa própria decisão racional.
Recentemente, recebi uma mensagem de um leitor que é empreendedor e se identificou com os meus artigos. Conversamos bastante sobre a história dele e da criação de sua empresa. E algo que ele falou me deixou bem intrigado.
Como eu, o Gabriel também é empreendedor desde criança. Quando era mais novo, vendia coisas pela internet e, dessa maneira, começou a desenvolver sua carreira.
Ele sempre se interessou por produtos fashion. Mas, como onde morava era difícil encontrar os acessórios que gostava, ele começou a fabricar os seus próprios. Então, passou a projetar acessórios em fibra de carbono, que tinham não só ótimos designs, como também eram bem resistentes.
Com o tempo, vários de seus amigos acabaram se interessando e o perguntavam onde ele havia comprado esses acessórios.
Por ser um material muito difícil de se trabalhar (o mesmo usado em alguns carros esportivos), todos ficavam surpresos quando o Gabriel revelava que ele próprio fazia a produção manualmente.
A partir daí surgiu a ideia de começar a vender as peças. Já que a fibra de carbono exige uma fabricação artesanal, peça a peça, ele começou a ampliar a equipe.
E, como já tinha experiência em vendas online, rapidamente conseguiu atrair uma clientela fiel. Surgia aí a Billion Key. Hoje, a empresa já é um destaque no mercado de acessórios masculinos de luxo. Apesar da crise econômica pelo qual passamos, o faturamento da marca não para de crescer.
No começo, muita gente achou que o Gabriel era maluco. Quem, em sã consciência, iria investir em produtos de luxo no meio da maior crise da história do Brasil?
Todos aconselharam-no a mudar de ramo, vender coisas que estavam na moda. Mas será que realmente teria sido a melhor alternativa?
Tivesse ouvido a opinião da maioria, o Gabriel dificilmente teria realizado seu sonho. E, mesmo que tivesse, provavelmente iria estar competindo com centenas de outros negócios similares para sobreviver.
Muitas vezes, negócios de sucesso surgem de nichos de mercado não explorados. Nesses casos, obviamente, há uma resistência muito grande de pessoas enxergarem oportunidades de lucrar. Mas isso é trivial, uma vez que, se não fossem áreas não exploradas, certamente não seriam novidade para ninguém. Então, a desconfiança dessas pessoas já não existiria mais.
É claro que, por outro lado, ele acaba ouvindo muitos comentários negativos de quem acha ofensivo uma empresa vender esse tipo de produto numa situação de recorde de desemprego no país.
Infelizmente, essas pessoas não consideram o fato da empresa não só estar gerando empregos e atividade econômica, como também estar suprindo uma demanda já existente por esses acessórios.
Onde algumas pessoas enxergam pura ostentação, seus clientes enxergam uma representação de vitória e sucesso fruto de muito trabalho duro.
Por que é muito comum optarmos por seguir a manada?
O medo do fracasso é o principal motivo.
No livro “O Paradoxo da Escolha”, Barry Schwartz mostra que é parte da natureza humana preferir adotar uma alternativa com maior chance de insucesso, desde que outras pessoas escolham essa opção também, do que uma alternativa com um risco menor, mas que ninguém escolhe.
Recomendo fortemente que você leia esse livro. Se preferir, pode ouvir o audiobook grátis na Audible, cadastrando-se aqui.
Sua teoria é que não é o fracasso que nos assusta, mas o fato de fracassarmos sozinhos. Por isso, muitas vezes deixamos de seguir nossos instintos para acompanhar a multidão.
E o grande problema disso?
Esse medo do fracasso nos impede de alcançarmos novos patamares. As incertezas que a inovação traz acabam nos incentivando a acompanhar cegamente um líder, na esperança de que ele já tenha pensado minunciosamente no assunto e tenha as respostas que desejamos.
Adicionalmente, muitas ideias boas acabam perdidas devido ao receio que as pessoas têm de executá-las.
Você provavelmente já deve ter visto uma paleta mexicana. É uma espécie de picolé recheado que surgiu há uns anos como grande novidade. Seu sabor diferenciado conquistou uma grande atração no país todo.
As primeiras lojas souberam aproveitar bem a demanda. À medida que mais gente ia conhecendo a paleta, mais elas lucravam e, consequentemente, mais atenção ganhavam.
Com o tempo, pessoas passaram a observar o sucesso de vendas. E, claro, todos quiseram dar uma abocanhada não na paleta, mas nesse imponente mercado. Entretanto, passada a febre inicial, muitas das lojas que vendiam o produto começaram a fechar.
Mas como que um negócio tão lucrativo poderia fracassar assim repentinamente? A resposta você certamente já deve ter imaginado: o efeito manada.
Quando um potencial investidor observava o sucesso das paleterias, ele não tinha dúvidas e pensava: “Quero me dar bem também”.
Ao conversar com amigos e familiares sobre a possibilidade de abrir uma loja, ele só recebia encorajamentos: “não tem como dar errado, conheço uma pessoa que abriu e hoje está fazendo muito dinheiro”.
Acontece que esse investidor não estava sozinho. Muitas outros gênios empreendedores também tiveram essa “ideia inovadora”. Enquanto que os primeiros que se aventuraram em um mercado ainda desconhecido conseguiram ganhar dinheiro, os últimos, que esperaram tanto tempo para ver se ia dar certo, não se deram tão bem assim.
E por que isso acontece?
Quando você abre qualquer negócio, quanto mais seguro você se sentir, maiores as chances de perder dinheiro. Risco é proporcional ao retorno. É matemática pura e inquestionável.
E essa foi a grande sacada do Gabriel. Inovar em um mercado onde ninguém mais viu um potencial. Se, em vez da Billion Key, ele tivesse aberto uma Billion Paletas, sua história poderia ter sido muito diferente.
A grande lição que fica:
Se você quer ter uma performance melhor do que a maioria das pessoas, você deve fazer coisas diferentes da maioria das pessoas. Fazer o que ninguém mais está disposto a fazer, em geral, é a melhor forma de gerar valor aos consumidores.
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4 Comentários
Attigo fantástico!
Estou iniciando um negócio e vai justamente contra a maioria. Espero poder voltar em breve para contar que tudo deu certo.
Valeu Marcio, boa sorte!! Depois conta como foi
Excelente artigo Daniel.
…”Quando você abre qualquer negócio, quanto mais seguro você se sentir, maiores as chances de perder dinheiro. Risco é proporcional ao retorno. É matemática pura e inquestionável.”
É isso aí mesmo. Palavras muito inspiradoras. Obrigado por compartilhar !
Acho que todo empreendedor deveria ler este artigo! Só posso lhe dizer uma coisa: Excelente!